Em 13 de Dezembro passado apresentei um post em que tratava da comemoração, em 2010, dos 150 anos do nascimento deste grande compositor e maestro. Nele concentrei a minha atenção na sua biografia.
Em 18 de Maio completou-se um século sobre a sua morte.
Não podia deixar passar esta efeméride sem a referir. Desta vez entendo que devo concentrar-me na sua obra de compositor.
Nesse dia 18/5 saiu no Público um excelente artigo, assinado por Cristina Fernandes, pelo que resolvi retirar alguns excertos, dado que é demasiado longo.
“Gustav Mahler queria abarcar o mundo
"Uma Sinfonia deve ser como o mundo, deve conter tudo." Esta forte convicção de Gustav Mahler (1860-1911) foi levada pelo compositor e maestro austríaco às últimas consequências, de tal forma que é difícil imaginar um legado sinfónico mais abrangente ou desenvolvimentos futuros que acrescentassem etapas a um caminho que tinha chegado ao auge. Quando faleceu a 18 de Maio de 1911, faz hoje um século, no Löw Sanatorium de Viena, vítima de uma infecção estreptocócica, Mahler contava com admiradores incondicionais (incluindo maestros como Bruno Walter e Willem Mengelberg que se tornariam referências na interpretação da sua obra), mas também com detractores. A crítica e o público da época nem sempre compreenderam devidamente uma linguagem que misturava elementos aparentemente antagónicos, que tanto podiam remeter para a esfera do sublime como para a vulgaridade terrena, ou os efeitos pouco convencionais em termos de orquestração, frequentemente objecto de caricatura na imprensa.
Não obstante o sucesso da Sinfonia nº8 na estreia em Munique em 1910, junto de uma audiência que incluía figuras tão ilustres como Richard Strauss, Schoenberg, Max Reinhardt e Thomas Mann, não era ainda completamente claro que Mahler viesse a adquirir um lugar proeminente na História da Música. O próprio compositor usava várias vezes a expressão "o meu tempo ainda está por chegar" e após a sua morte passaram várias décadas até à consagração definitiva na década de 1960 graças ao impulso dado por Leonard Bernstein na reabilitação do legado sinfónico mahleriano após a II Guerra Mundial….
Na entrevista que concedeu ao Ípsilon em Abril de 2009 a propósito de um concerto com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, o maestro Michael Zilm definiu Mahler como "um compositor cuja música transmite todos os sentimentos da humanidade." A produção de Mahler tem sido central na carreira deste maestro alemão, convidado habitual das principais orquestras portuguesas e estudioso das partituras originais do compositor austríaco. "Atrai-me o gosto que Mahler tem pelos extremos, a sua mistura entre música popular e música elevada, entre melancolia e felicidade, ternura e a violência. Ele faz a ponte entre o século XIX (Bruckner, Brahms, Wagner) e o século XX (Schoenberg e a 2ª Escola de Viena). É todo um universo."…
A produção de Mahler distribui-se por duas áreas principais que se contaminam mutuamente: a Sinfonia e o Lied, com acompanhamento orquestral. As canções compostas na juventude e os primeiros grandes ciclos escritos antes de 1901 - Lieder eines fahrenden Gesellen e Des Knaben Wunderhorn- têm uma profunda marca do universo literário de origem popular, ainda que filtrado pela tradição erudita na recolha de Arnim e Brentano que deu origem a esta última série. O uso da orquestra como um imenso reservatório de cores, ambientes e sugestões trouxe a estes textos uma poderosa e complexa carga expressiva. O Lied foi para Mahler uma espécie de laboratório sinfónico. Foi o principal fermento das primeiras quatro Sinfonias e não desapareceu totalmente das seguintes. Está presente na Quinta (Ich bin der Welt dos Rückert Lieder é citado no famoso Adagietto) e na Sexta (Revelge). A partir desta época, os alicerces criativos de Mahler tornam-se mais instrumentais do que vocais, mas a voz reaparece em grande pujança na Sinfonia nº8 (1906) e na Canção da Terra (1909), para contralto e tenor solistas, uma obra que realiza a fusão entre os dois géneros…”
Ao meu texto de 13 de Dezembro pretendo acrescentar excertos da segunda sinfonia
Hoje quero mostrar uma outra faceta de Mahler; 3 das suas maravilhosas canções do ciclo Des Knaben Wunderhorn.
1) Em 1968 Christa Ludvig interpretou URLICHT dirigida por Bernstein
Um crítico escreveu que trata-se da GRAVAÇÃO DEFINITIVA deste Lied, vamos ouvi-la
Poderá seguir o texto desta canção, em várias línguas, AQUI.
2) Os célebres cantores Elisabeth Schwarzkopf e Dietrich Fischer-Dieskau interpretaram de forma magistral a canção Wo die schönen Trompeten blasen
Poderá seguir o texto desta canção, em várias línguas, AQUI.
3) Em Março de 1968 Dietrich Fischer-Dieskau e a orquestra Sinfónica de Londres sob a direcção de George Szell, interpretaram a canção REVELGE.
Poderá seguir o texto desta canção, em várias línguas, AQUI.
Tenham uma boa audição usando preferencialmente uns auscultadores de boa qualidade pois, em Mahler, a orquestração é tão essencial como a voz.
Rui Cunha
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