quinta-feira, 31 de março de 2011

O Papel dos Séniores na sociedade do Futuro





Em tempos em que, um pouco por quase todo o mundo, a até agora pirâmide das idades está a deixar de sê-lo, transformando-se gradualmente num rectângulo assente num dos seus menores lados, impõe-se reflectir sobre as implicações desta alteração demográfica na sociedade do futuro. Neste colóquio propõe-se o ICAFG abrir a reflexão sobre como será a intervenção dos seniores nessa sociedade.

Trata-se de um atrevimento distanciarmo-nos das inúmeras abordagens e estudos existentes sobre as carências dos mais idosos nas sociedades actuais e, supostamente, dada a omissão, nas sociedades futuras. Atrevimento porque, a essência metodológica para o fazer pressupõe que o modelo científico que nos condiciona, constitui uma limitação para encontrar as respostas adequadas: muitas delas resultarão sobre o bem compreender as grandes tendências que subjazem à história da humanidade e a especulação sobre as suas futuras implicações.

Assim, não podemos deixar de citar as que cremos serem as principais tendências que irão moldar essas especulações, cientes de que outras, mais ou menos inter-relacionadas, poderão e deverão, vir à luz da discussão. São elas a tecnologia e a explosão do conhecimento; a sempre presente globalização; e a escassez de recursos do planeta e a necessidade de perseverar o seu meio ambiente.

A tecnologia, aqui entendida como o processo de desenvolver uma actividade humana e aumentar o conhecimento humano, tem certamente um papel que importa abordar um pouco mais cuidadosamente, nomeadamente no que concerne às suas vertentes da comunicação e do tratamento da informação, que constituem a razão de ser da vida e da complexificação das sociedades.

Efectivamente, foi a fala, mais do que o fogo, a roda ou o lenho marítimo, que permitiu que os homens se organizassem, lentamente começando a dominar os então seus pares. Foi a escrita, o registo das palavras, que permitiu aos homens começarem a organizar impérios. Foi a imprensa, o primeiro mass media, que multiplicou os detentores do conhecimento e o foi multiplicando, com um enorme impacto na reorganização das sociedades de então. Foram os telégrafo, o telefone, a TSF, a TV, os comboios, os aviões, etc., que asseguraram uma comunicação necessária à organização de sociedades cada vez complexas e vastas. Foi o computador, essa maquineta concebida para fazer cálculos matemáticos, e que se expandiu pelas brutais carências das novas sociedades em tratar a informação gerada pela intensa comunicação existente. E é a internete que replica nos nossos dias, mas de uma forma muitíssimo mais alargada, o que no seu tempo fez a imprensa de Guttemberg: a possibilidade da democratização do saber. À luz dos conhecimentos actuais, talvez seja lícito afirmar serem a transmissão e o tratamento da informação os principais repensáveis pelo evoluir e o complexificar das sociedades humanas, no contínuo construir da noosfera* aventada por Teillard de Chardin. E este facto não pode ser ignorado quando se fazem especulações para o futuro de tais sociedades.


* A Noosfera pode ser vista como a "esfera do pensamento humano", sendo uma definição derivada da palavra grega νους (nous, "mente") em um sentido semelhante à atmosfera e biosfera.
Na teoria original de Vernadsky, a noosfera seria a terceira etapa no desenvolvimento da Terra, depois da geosfera (matéria inanimada) e da biosfera (vida biológica). Assim como o surgimento da vida transformou significativamente a geosfera, o surgimento da conhecimento humano, e os conseqüentes efeitos das ciências aplicadas sobre a natureza, alterou igualmente a biosfera.

Texto de Carlos Marques Pinto a partir das conversas tidas no Grupo de Reflexão para a Preparação do Encontro "O Papel dos Seniores na Construção do Futuro." Este Grupo reúne às segundas-feiras pelas 17 horas e é aberto a todos os alunos e professores do instituto que pretendam colaborar.

terça-feira, 29 de março de 2011

António Vasconcelos e o seu livro "Sobre Carris".




O aluno do ICAFG António Vasconcelos, que teve uma crónica sobre comboios no Jornal de Noticias nos anos 90, deu ao prelo mais um livro de sua autoria a que chamou “Sobre Carris”. A Editora é a Media XXI e foi lançado na FNAC no passado dia 23 de Fevereiro com a presença de Paulo Faustino, Fernando Martins (ex-director adjunto do Jornal de Noticias) e do professor Hélder Pacheco, autor do prólogo.

“Sobre Carris” é uma obra sobre memórias e lazeres na qual fez uma descrição cuidadosa de estações, museus, pontes, comboios, metropolitano e conjuga os dramas, as alegrias e devoções de uma vida.

O Professor Jorge Rego, da unidade cultural "Fotografia" do Instituto, fez um destaque ao lançamento no seu blogue que pode ser lido AQUI.

Para breve, prometemos dar a conhecer novas facetas da vida e da personalidade de António Vasconcelos.



segunda-feira, 28 de março de 2011

Uma visita à Casa Museu Ferreira de Castro e ao pólo da colecção Berardo na Bairrada por João Pimenta



No passado dia 15 de Fevereiro, deslocámo -nos, numa visita de iniciativa do curso de Literatura, orientada pela Doutora Isabel Ponce de Leão, à Casa Museu Ferreira de Castro, em Ossela (Oliveira de Azeméis) e às Caves Aliança, na Bairrada, onde, após um almoço, em que, como não podia deixar de ser, predominou o leitão, visitámos um dos pólos da colecção Berardo, constituída por uma apreciável colecção de pedras semipreciosas do Brasil e por um conjunto de esculturas africanas. Deve dizer-se, porém, que as duas amostragens, embora colocadas em espaços adequados, não tinham como suporte indicações gráficas, não deixando, contudo, de justificar uma observação atenta.
Mas o fulcro principal da viagem tinha como objectivo a visita à Casa Museu Ferreira de Castro , o que nos permitiria um melhor conhecimento da vida e obra do grande escritor. Por estrita decisão sua, a Casa Museu foi doada à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, com a condição de ser mantida exactamente como se encontrava, quando do nascimento do escritor, de onde resulta que dada a simplicidade espartana do seu conteúdo, tenha um valor meramente simbólico. Em frente, encontra-se, em imóvel mais recente, uma pequena biblioteca, onde se expõem exemplares das edições da sua obra, incluindo muitas traduções em variadíssimas línguas (é de notar que, durante muitos anos, Ferreira de Castro foi o autor português mais traduzido). Encontram-se igualmente expostas as edições das primeiras obras, posteriormente rejeitadas pelo autor. Deve referir-se, contudo, que a maior parte do espólio de Ferreira de Castro foi por ele doado à vila de Sintra, onde viveu grande parte da sua vida, tendo aí falecido.
Esta visita proporcionou-nos uma reflexão sobre o modelo predominante das Casas Museus, que são normalmente constituídas por imóveis, por vezes com recheio de alto valor artístico ( de destacar, entre outras, a Casa Egas Moniz, em Avanca, a Fundação Medeiros e Almeida, em Lisboa, a Casa dos Patudos, de José Relvas, em Alpiarça, a Casa de Carlos Relvas, na Golegã, esta constituída por um notável espólio de fotografia). Entretanto, surge um modelo mais dinâmico, no conceito do qual a Casa Museu deixa de ser apenas um local de evocação do seu criador, evoluindo para um verdadeiro centro de investigação e produção cultural. É já neste modelo que se insere a Casa de Camilo Castelo Branco, em Seide, que constitui um importante centro de investigação literária. Há boas notícias neste tão importante campo. Sabe-se que está em desenvolvimento, no Porto, um projecto de raiz, orientado por pessoa bem conhecida no nosso Instituto, a partir da obra e da personalidade de Agustina Bessa Luís, e que constituirá um centro de investigação e produções afins.
Devo realçar que o êxito e a adesão a esta visita, na qual foram nossos parceiros de viagem o Sr. Professor Doutor Levi Guerra e as Senhoras Dras Maria Aurora e Maria do Amparo, resulta da participação muita activa de todos aqueles que frequentam esta Unidade Cultural. Sem pretender, de forma alguma, procurar estabelecer qualquer comparação com os métodos e a qualidade das demais Unidades, o critério posto em prática pela Doutora Isabel Ponce de Leão, nomeadamente naquilo que ela própria designa como negociação dos temas propostos anualmente, permite desenvolvimentos, intervenções abertas durante as sessões, elaboração regular de trabalhos preparados em casa e analisados por todos durante as aulas; este método tem-se mostrado altamente estimulante. Queria destacar, como exemplo, e por ser de elementar justiça, a contribuição da nossa colega, Dra. Laura Faro Barros que, em todas as aulas, nos lê e oferece um exemplar de um poema seu, habitualmente de grandes qualidade meditativa e domínio técnico.
Para concluir, a definição que me apraz para o curso de Literatura é a de que se trata de um grupo de pessoas que gostam de literatura e que, como tal, se reunem, para ler e debater em conjunto, sob a orientação de uma especialista.

João Pimenta

L’Art des Castrats


Neste mês de Março a emissora de televisão ARTE apresentou um maravilhoso programa, “l’art des castrats”,  com música composta por  compositores dos séculos XVII e XVIII e destinados a serem cantados por “castrati”, isto é, cantores que tinham uma boa voz e que antes da puberdade eram sujeitos ao corte dos canais provenientes dos testículos, de forma a que aquela se desenvolvesse de forma semelhante à de uma mulher adulta. A razão deste procedimento provinha da proibição das mulheres puderem subir aos palcos.
Há conhecimento de extraordinários cantores que tiveram grande sucesso e que enriqueceram fabulosamente com as suas actuações, porque o papel do herói era muitas vezes escrito para castrati, como por exemplo nas óperas de Handel.
No programa da ARTE foi intérprete a cantora italiana Cecilia Bartoli acompanhada por Il Giardino Armónico, dirigido por Giovanni Antonini.
Dada a extraordinária qualidade e espantosa técnica desta cantora, pareceu-me de muito interesse reunir algumas das árias apresentadas:













Como ilustração deste tema, acrescento uma maravilhosa cena do filme Farinelli (1705-1782) il castrato, de Gerard Corbiau, cantado pelo espantoso contra-tenor Stefano Dionisi. Vale a pena ver e ouvir bem alto:



Não podia terminar sem apresentar uma elucidativa entrevista da própria Cecilia Bartoli sobre os “castrati”:







Rui Cunha

sexta-feira, 25 de março de 2011

Praça D. Pedro. Nascimento, Vida e Morte da Avenida dos Aliados, um filme de Rui Cunha





Mais um importante momento na vida da Oficina da Cultura, já podemos assistir ao filme que o Rui Cunha realizou a partir de quase duas centenas de fotografias da Praça e Avenida dos Aliados.

Estamos todos de parabéns!

terça-feira, 22 de março de 2011

Lançamento do livro de Margarida Negrais




9 de Abril de 2011, pelas 16 horas
na Biblioteca Almeida Garrett (ao Palácio de Cristal)

Lançamento do livro de Margarida Negrais
"Mig, a formiga comodista", da Editora Letras & Coisas

ilustrado pelo pintor José Emídio
e prefaciado pelo médico Doutor Levi Guerra.


segunda-feira, 21 de março de 2011

Beijo o Porto pela Companhia Teatral de Ramalde



O espetaculo "Beijo o Porto" da Companhia Teatral de Ramalde estará em cena no proximo sábado dia 26 de Março pelas 21:45 na Cooperativa de Ramalde (Largo de Pereiró). É uma peça onde podemos encontrar os alunos Cesário e Lurdes Costa.

Histórias de Amor e Amizade, um conto inédito de Margarida Negrais



( Diálogos improváveis)

1

- Peixinho, peixinho! Que fazes tu aqui sempre à minha volta, que me estás a pôr tonta, apesar de eu ser pedra?
- Tento fugir, tento esconder-me….
- Hi,hi,hi!!! Ai, ai, ai!!! Mas não vás para aí, para debaixo de mim, que me fazes cócegas…
- Mas este sítio é um esconderijo tão bom!
- Sim, mas arranjaremos outro! Afinal…de que foges tu?
- Neste lago onde me puseram, tudo me assusta: a cor escura da água, essas folhas enormes pousadas à superfície, aquele bicho verde com ar guloso!
- A rã? Tens medo da Senhora Rã? Ela é muito simpática, não tenhas medo…
- Tem um aspecto viscoso e repelente…Assusta-me…
- Sim, sim! Mas anda lá, sai daí! Fazes-me comichão com a tua barbatana dorsal…
- Tenho medo de sair…Já viste este monstro vermelho que anda aqui a rondar?... Parece-se comigo, mas eu sou pequenino e preto, e ele é …enorme! Só o olho dele é do meu tamanho!
-Sim, sim, tudo isso é quase verdade! Mas anda lá, sai daí que não aguento as cócegas! Ai, ai! Hi, hi, hi!
- Daqui posso ver o que se passa aí fora…sem precisar de me expor…estas algas e este musgo que te cobrem são uma camuflagem extraordinária!
- Olha ali aquele buraquinho! Nada rapidamente para lá! O peixe vermelho teu parente foi comer à superfície…
- Está bem! Já que insistes…Aí vou eu! …Pronto, já cá estou! Mas fico longe de ti! Snif, snif, snif!
- Sim, mas não chores…Eu protejo-te daqui! Sabes que está a acontecer uma coisa… começo a gostar de ti…Acho que nos vamos dar muito bem…
-Ah! Isso era tão bom! No aquário da loja de animais onde eu vivia éramos imensos, nadávamos numa água muito transparente, para que os clientes nos pudessem escolher…Éramos às centenas! E eu sentia-me apenas mais um…
- Pois, compreendo-te! Sentias-te sozinho no meio dessa multidão de peixinhos… Mas aqui eu vou ajudar-te a sentires-te UM dos mais!!!
-E isso o que é?
- Quer dizer que, embora sejas um peixinho preto precisamente igual a muitos outros, por dentro és tu…diferente de todos, e isso é o que a nossa amizade, ao crescer, te vai mostrar!
-Ai pedra, que bom! Até me apetece chamar-te pedrinha, apesar de seres tão grande e já “entradota”…
- Podes chamar-me como quiseres…Até me podes chamar porto de abrigo, que é o que eu vou ser para ti…
-Porto de abrigo…O que é isso?
-É um sítio onde a água é calma e os barcos podem estar sem perigo.
- Ah! Então é parecido com o que eu sentia ainda agora, quando estava por baixo de ti, nessa covinha…Eu achava que estava aí protegida de qualquer perigo…
- Sim! É isso mesmo! Mas vais ver que daí, desse lugar que vai ser o teu, vais sentir a minha amizade, a minha preocupação contigo, os meus cuidados…Eu estarei atenta para que nada te aconteça…
- Sempre?!
- Bem…Até tu ficares forte, cheia de vigor, aprenderes a não ter medo do peixe vermelho nem de nada, a confiar em ti…
- E achas que isso vai demorar muito tempo?
- A isso só tu saberás responder…
- Queria ir para ao pé de ti… Fazer-te cócegas com a minha barbatana…
-Uhm! Está bem! Vem cá! Só um bocadinho…Pensando bem, há nessas cócegas alguma coisa de agradável…Anda! Vem lá então! Chega cá essa barbatana…


Margarida Negrais 



S. João em 1957, no Porto



Vestidos a rigor. O pai de chapéu. A mãe com o melhor vestido de verão. As irmãs de amarelo-esverdeado (como canários) e caraminholas lacadas à anos 50.
A camioneta dos Carvalhos (UTC) conduzida pelo patrão mais rabugento da empresa, – para os empregados, porque aos clientes tratava-os por “V.Exas.” - o Sr. Lima. O ajudante (cobrador) Sr. Júlio era o mais antigo dos empregados e podia bem com ele – já lhe conhecia os tiques e respondia à letra.

Toda a frota era utilizada neste dia. Tal como no 15 de Agosto, para a Sr.ª da Saúde. A 9, 10 até à 14 (chocolateiras de dois compartimentos) não tinham parança. Directas, ou de Desdobramento, lá andavam elas para cima e para baixo toda a noite.
Ronceiras, passavam à minha porta, na subida para a Sr.ª do Monte, dando traques de emergência para conseguirem chegar ao alto. E chegavam! Em 15 de Agosto lá andavam elas outra vez.
Eu gostava de as ver! Não só por serem úteis e engraçadas no andar, mas porque me faziam lembrar, com saudade, a minha primeira viagem numa delas, que me lembre, ao Porto.
 Tinha eu cinco anos. Estava eminente uma operação às minhas amígdalas (ainda hoje sinto o cheiro clorofórmico da anestesia e os mimos pós-operatórios do leite-creme (ou da Saluzena) depois da longa dieta a gelo arranjado não sei aonde!). Fui a Sá da Bandeira, em jejum, tirar análises ao sangue. Uma picadela no dedo anelar – menos lancinante que a de uma abelha.
Como recompensa pelo meu heróico comportamento no laboratório, ali, junto ao Teatro, minha mãe levou-me ao Palladium para tomar o pequeno-almoço.
Não me lembro do percurso até lá, pois teria, forçosamente, de subir Passos Manuel. Mas lembro-me de titubear para entrar na porta do Café. Girava com força! Minha mãe puxava-me a mão enquanto eu ensaiava o passo de dança para entrar no carrossel.
Deslumbrante! Que fascínio, o reflexo das coisas em movimento rotativo! A vozearia e o tilintar das chávenas numa mistura cheirosa a café! O eléctrico passando lá fora (Rom-rom Rom-rom Rom-rom) em sentido contrário, às arrecuas, na montra da Casa Inglesa!
Um galão num copo encastoado no metal com asa e uma torrada bem doirada e quente. Boina na cadeira vazia (quando se come tira-se a tampa) e lá estou eu a abocanhar a primeira fatia – a do meio – que pendia, de tão fresca, nos dedos besuntados da manteiga.
 A loiça, os metais dos açucareiros, dos bules, das cafeteirinhas, das leiteirinhas e das bandejas; o arrastar das cadeiras com pitões amarelos enfileirados no cabedal trabalhado; o pregão do ardina: “Janeiii...ro! É o Comércio! Ólhó Notíiii...ciás!”.
Um virote de novidade citadina! Não perdia pitada. E tudo captei! Até os cavalheiros que liam jornais tinham chapéu (alguns poisados nas cadeiras como a minha boina)! O graxa escarranchado na caixa, beata apagada na orelha, fazia chiar a tira de pano na biqueira do botim do pinoca que olhava, embasbacado, as madames enchapeladas de mosquiteiro na cara, que se encontravam no salão-de-chá, junto aos vidros de Passos Manuel, beberricando o chá (que diziam ser de parreira). Logo pela manhã?!
O Sr. Júlio picou os quatro bilhetes de 2$10, mais meio bilhete para mim – embora eu já tivesse ultrapassado a idade do bónus, e até já trabalhava – que ia sentado no colo da mãe a parecer mais pequeno do que era.
Com o fiscal, o Sr. Fontes, não houve problema. Entrou na paragem da Câmara. De boné, com cordões dourados sobre a pala, andou pela coxia, vindo de frente. Com seu alicate ia picando estrelas nos bilhetes e, chegando à nossa vez, tirou uma chapelada ao meu pai, fez uma vénia à minha mãe e seguiu em frente!
2$10 vezes quatro, mais 1$00 do meio bilhete, ir ao S. João do Porto e vir, ficava por mais de uma folha de alface!
Chegados à casinha da P.V.T., no Jardim do Morro, onde terminavam as árvores (que antigamente sombreavam os bancos que haviam na Avenida, desde St.º Ovídeo, para deleite de todos quantos quisessem ouvir a passarada e ver, repousados, os andantes para a festa), via-se os arcos da Ponte e, logo à entrada, a tabuleta a advertir os peões para a atravessarem pela esquerda.
Aligeiradas, passavam pessoas (algumas com as mangas das camisolas presas à cintura) embandeirando alhos-porros e plumas.
Do lado de lá da ponte, adensavam-se!
Depois de despejados no Largo Actor Dias, a camioneta invertia a marcha, vazia, para ir e voltar, uma hora depois, com mais uma cabazada de gaienses foliões – que não era o nosso caso. Nós éramos uma família pacata, mais habituada aos sãojoões de Canelas, das comunhões solenes e das Bandas ouvidas à volta do Coreto.
O S. João do Porto era a festa que iríamos aprender! Por isso íamos trajados como se fôssemos à ópera.
Na Batalha, sentimos o cheiro das cidreiras e dos manjericos à venda em sítios estratégicos como: junto à Messe, junto aos Correios e pelo passeio fora, até ao Águia D’Ouro. Na outra esquina, a de Alexandre Herculano com Entreparedes, e a tapar a Farmácia Henriques, expunham-se outras cores que exalavam outros cheiros, mais apetitosos: os bolos regionais: melindres, doces da Teixeira, regueifas, caladinhos e outras guloseimas por entre as enormes broas de milho. Tudo isto sob o toldo branco do pano de quatro pontas presas pelos cordéis estacados no chão e de cúpula forçada pela vara grossa na vertical.
Junto ao Cine-teatro S. João já havia uma fogueira e a rapaziada saltava divertida. Ainda mais divertida ficava quando o salto mais ousado de raparigas deixava ver as coxas pondo-se logo a adivinhar as cores das lingeries  que cobriam os traseiros.
Encostamo-nos ao Café Java para apreciar a brincadeira. Lá de dentro, batiam nos vidros e gesticulando pediam-nos para nos afastarmos – éramos baços para espelho e queriam ver as vistas – por isso tinham pago para estar de palanque. Ora essa!
Entretanto, fomos sendo mimados com pancadinhas de alho: masculino no feminino e vice-versa. Pancada do masculino no machão poderia dar bronca! Não que isso tivesse importância, mas naquele tempo não parecia muito adequado. Prezava-se muito a masculinidade e poderia ouvir-se uma de “panasca”. Olarilas!
Pior foi quando uma rapariga virou o chapéu do meu pai! De careca ao léu e apanhando o testo já pontapeado esperamos quedos e mudos pela reacção. Vá lá! Só um sorriso amarelo mas a confirmar não estar aborrecido a ponto de termos que ir embora. Até que era divertido! Apenas não tínhamos o arsenal para podermos ripostar ou atacar os beligerantes alegres. Debaixo de fogo, que vinha de todos os lados, consegui atravessar a praça e comprei três alhos-porros na molhada encostada ao Cinema Batalha.
O pai enterrou o chapéu até às orelhas, a mãe enfiou-lhe o braço e nós, à frente, combatíamos! Os cabelos das minhas irmãs, antes ripados pela cabeleireira, eram agora guedelhas desgrenhadas a destoar dos lindos vestidos feitos lá em casa.
Estavam na idade de namorar e insinuavam-se, sorrindo, aos presumíveis pretendentes pela R. Santo António abaixo. Chegados à Praça pareciam as Cardosas no Passeio, de um lado para o outro, pincelando as popas de brilhantina dos potenciais cavaleiros-andantes. Andavam divertidas! Eu também, mas com fome! Nunca deveria ter visto aquelas barracas das guloseimas!
Esgrimimos por Sampaio Bruno, Sá da Bandeira, Passos Manuel e St.ª Catarina até Batalha. Enfiamo-nos por Alexandre Herculano em direcção às Fontainhas?! Que confusão!
Atropelos no cruzamento de Duque de Loulé! Continuando, já não havia espaço para levantar os braços e esticar o alho. Como gigantones do S. Gonçalo, chegávamos ao ponto de só ver olhos esbugalhados nas cabeças como que prestes a serem enforcadas! Desembocava, ali, a R. das Fontainhas. Meu pai, na torrente do maremoto, gritava: “Quem se perder, vai ter... (não se percebia aonde!) vai ter... (e desaparecia rodopiando no redemoinho de gente). Eu, deixava-me ir na corrente, flutuando no rio onde não havia pé, sem remos que me auxiliassem desviar das pedras moles que se amorteciam na minha cara.
Como náufragos, desaguados junto à cascata movimentada (com ciclistas que entravam de cabeça para baixo no túnel, e tudo o mais), reencontramo-nos.
Exangues pela maior cheia do ano no Porto, dirigimo-nos, de alhos caídos e frouxos, para a barraca das farturas.
Enquanto esperávamos pela dúzia de farturas (ainda em unidade longa a doirar-se enroscada numa enorme frigideira), éramos esfregados com molhos de cidreira por gente solidária, como se quisesse ver-nos retemperados.
Entre a Fonte do S. João a baptizar Cristo e a nossa barraca, o vidreiro da Marinha Grande fogueava lindas cegonhas e dava-lhes as formas com o seu alicate de bicos. Outras belezas em vidro estavam expostas para venda na banca do artesão.
As cadeirinhas sobrevoavam sobre o sítio onde tínhamos sido levados pela enxurrada. E, adeptos ferrenhos daquele engenho de divertimento, enroscavam as correntes das cadeiras, onde voavam, nas outras, das sopeiras que guinchavam alegremente. Na mira de ventos generosos, basbaques olhavam para elas, cá em baixo.
Assim que vieram as farturas, polvilhadas de açúcar e canela, mais as respectivas laranjadas, para a nossa mesa junto ao tablado, logo apareceu a catraiada, vinda não sei de onde, a pedir: “Meu senhor! Uma farturinha!”
Minha mãe ainda mal tinha aberto a boca para saborear a primeira fartura! Deu uma a um deles. O outro também queria, mas não levou nada! Chamou-me murcom?!

Cesário Costa/Janeiro 2003

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cavalo Selvagem, desenho e poema de Manuela Miguens

Riccardo Muti



Riccardo Muti (Nápoles, 28 de julho de 1941) é um dos mais importantes e conhecidos maestros da actualidade. Em 5 de Maio de 2008, foi nomeado o novo Director Musical da Orquestra Sinfónica de Chicago, efectivado na temporada 2010/11.
Dirigiu algumas das mais importantes orquestras em obras sinfónicas e óperas.
Foi mesmo na ópera que iniciou a sua carreira, tendo dirigido as mais célebres e os melhores cantores, entre os quais Luciano Pavarotti.
Em 2010 recebeu o prémio de Músico do Ano de América Musical.
Encontrei no Youtube uma gravação de um excerto do seu discurso nessa ocasião.
Vale a pena ver e rever.



A este propósito, também partilho também um vídeo onde podereis ver uma estupenda lição de direcção de orquestra por Riccardo Muti e uma belíssima  charge de Mr. Bean, que muito me divertiu.






Rui Cunha

5 de Abril de 2011, visita Cultural orientada pela Profª. Doutora Isabel Ponce de Leão


Museu da Fundação Calouste Gulbenkian
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Biblioteca Nacional: Exposição Sophia de Mello Breyner Andresen - Uma Vida de Poeta

Inscrições Abertas.


Tertúlia com Armando Nascimento Rosa dia 16 de Março às 15 horas




Na próxima quarta-feira dia 16 pelas 15 horas nas instalações do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, tertúlia “Um Édipo: A psique em drama”com o dramaturgo Armando Nascimento Rosa.

Armando Nascimento Rosa (1966) é um dos dramaturgos portugueses vivos mais representados desde a sua estreia em 2000, com Lianor no país sem pilhas, peça distinguida com o Prémio Revelação Ribeiro da Fonte. Autor de quinze livros de teatro e de ensaio, alguns deles em tradução inglesa e/ou castelhana, é professor de Teoria e Escrita Teatrais na Escola Superior de Teatro e Cinema, do Instituto Politécnico de Lisboa, desde 1998.

No mesmo dia, será feita a leitura encenada da peça em 1 acto “Um Édipo”. Estamos todos convidados.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Sinagoga Portuguesa em Amsterdão.

No Youtube encontra-se, uma cerimónia musical passada na Sinagoga, que entendi ter grande interesse para nós portugueses, dado a Sinagoga ter sido construída pelos Sefarditas fugidos de cá cerca de 1596.




Da Wikipédia tirei os 2 apontamentos que seguem abaixo.

A Sinagoga Portuguesa de Amsterdão, denominada de "Esnoga", é uma sinagoga dos Países Baixos, situada numa rua (Visserplein) próxima do centro histórico de Amsterdão, em frente ao Museu da História Judaica de Amsterdão. É um edifício monumental que foi construído no século XVII (o chamado "século de ouro da Holanda") pela congregação de judeus de origem sefardita da cidade, a Congregação Portuguesa Israelita de Amsterdão. Hoje, após a Segunda Guerra Mundial e o resultante extermínio dos judeus (Holocausto), não existem mais do que 700 membros da congregação. Apesar disso, o imponente edifício, que escapou milagrosamente à destruição pelos nazis (a maioria das sinagogas alemãs foram incendiadas) permanece aberto ao público.
A 12 de Setembro de 1670 o terreno foi comprado para a construção da Sinagoga Portuguesa de Amsterdão. Foi projectada pelo arquitecto holandês Elias Bouman. As obras começaram a 17 de Abril de 1671. A esnoga seria inaugurada a 2 de Agosto de 1675.



Após a expulsão dos judeus de Espanha pelos "Reis Católicos" através do Decreto de Alhambra de 1492, cerca de 130.000 fugiram para Portugal, onde haveria um número semelhante de judeus portugueses.


Em 1496/1497, no reinado de D. Manuel I, todos eles seriam obrigados à conversão ao catolicismo, quer sejam judeus portugueses ou espanhóis. Começava a perseguição activa aos judeus em Portugal, que se iria consolidar com a entrada em funcionamento em 1540 do Tribunal da Inquisição, que perdurou até 1821.
Foi a partir daqui que se falou dos chamados "cristãos-novos", ou seja, os descendentes dos judeus convertidos à força. Foram perseguidos e oprimidos, por várias razões. Muitas vezes por inveja do seu poder económico - grande parte dos judeus sabia ler, enquanto que a esmagadora maioria dos católicos era analfabeta; também a Igreja Católica desempenhava um papel desencorajador da actividade económica, proibindo a usura.
Por volta de 1596, muitas famílias portuguesas de ascedência judaica, fartas da opressão em Portugal e desejosas de voltar a praticar abertamente a sua religião, rumaram a Amsterdão (entre muitos outros destinos de refúgio).
Nessa altura, entre 1580 e 1640, Portugal pertencia à União Ibérica dos Reis Filipes, uma aliança de tradição católica, em guerra aberta com a Inglaterra (Ver: A Armada Invencível) e a Holanda, países protestantes. Foi também nesta altura que a Inquisição Espanhola, praticada também no sul da Holanda avivou a fama terrível que os Espanhóis têm na Holanda de ser um povo bárbaro, das trevas. A Holanda, país onde a Reforma Protestante ganhara muitos adeptos, tinha sido um território dependente da Espanha católica, e lutava agora pela independência política e religiosa, ver: Guerra dos 80 Anos, a guerra da independência holandesa.
Assim se explica que não só os judeus portugueses que se refugiaram em Amsterdão, mas também os judeus espanhóis, se tenham rotulado de "Portugueses" para evitar a identificação com a Espanha inimiga.
Em 1599 havia apenas cerca de uma centena de portugueses em Amsterdão. Em 1610 seriam perto de 200. Por volta de 1725 seriam já 2500.
Os judeus ibéricos (os chamados Sefarditas) em breve se tornariam uma minoria, com o afluxo de judeus dos territórios da Europa de Leste (os chamados Asquenazitas), mais numerosos mas normalmente mais pobres do que os "Portugueses", que ganharam na Holanda um rótulo de gente de cultura, de dinheiro e influência política. Hoje, os nomes de família portugueses na Holanda (muito poucos, depois da invasão pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial mais de 80% dos judeus holandeses foram exterminados pelos Nazis), têm ainda uma aura de prestígio, intimamente ligado ao afluxo de judeus portugueses nos séculos 16 e 17.
Os judeus portugueses desempenharam um papel importante no desenvolvimento cultural e económico da República dos Países Baixos. Desfrutaram ali da liberdade de culto e de expressão, invejáveis para a maioria dos judeus nas restantes partes do mundo.
A comunidade judaica portuguesa produziria muitas figuras de renome nacional e internacional, rabinos, eruditos, filósofos, banqueiros, fundadores de companhias de comércio internacional. Alguns desses nomes que já têm ficha na Wikipedia portuguesa: Gracia Nasi, Isaac de Pinto, David Ricardo, Menasseh ben Israel, Isaac Aboab da Fonseca, Uriel Acosta, Baruch de Espinoza.


Rui Cunha

Espiritualidade, um poema-imagem de Manuela Miguens

quinta-feira, 3 de março de 2011

Convite: "De Malangatana a Matalana - Ida e Volta"




"De Malangatana a Matalana - Ida e Volta" é uma tertúlia com com o Professor Frederico Pereira* e vai acontecer no espaço do Instituto no dia 10 de Março de 2011, às 17 horas

*Professor Catedrático. Licenciado pela Universidade de Paris Sorbonne.

Mestre e Doutor pela Ecole dês Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris).
Psicanalista didacta.
Membro titular da International Psychoanalytical Association (I.P.A.).
Membro titular da International Association Of  Relational Psychoanalysis
Desempenhou diversos cargos e funções no meio psicanalítico (membro da direcção de Sociedade Portuguesa de psicanálise durante dez anos (Secretario cientifico, vice-Presidente e Presidente, em dois mandatos);membro Analytic Practice and Scientific Activities  Committee da I.P.A.(2005-2007;2007-2009),membro do conselho cientifico permanente dos Cpngressos da European Federation of Psychoanalysis (2006-2008);membro titular da British Psychological Soviety; da American Association for the Advancement of science,da European associatiopn for research in learning and instruction (EARLI) de cuja direcção fez parte por dois mandatos,. Membro do Intenational advsisory board dos DELPHI Seminars, consultor permanente do European Festival on film and Psychoanalysis, director e co director de varias revistas internationais e membro do conselho cientifico de revistas como  EVOLUTIOMN PSYCHIATRIQUE, clinical Psychpsychology and psychotherapy, etc autor  e “editor” de livros entre os quais “Fairbairn and Relational Theory(com David Scharff),” Penelope ou finalmente chegou a Primavera,”” Sonhar ainda”,” Cognition and context””literatture and Psychoanalysis (12 volumes).