Conforme afirmei no post de 4 de Janeiro, neste ano de 2011 comemora-se o segundo centenário do nascimento de Franz Liszt.
Liszt nasceu em Raiding, ao tempo pertencente ao Império Austro-Hungaro, hoje no leste do território Austríaco, junto à fronteira da Hungria. Na sua região o povo falava alemão e poucos conheciam a língua magiar. Baptizado Franciscus muito cedo mudou para o nome de Ferenc, mas os seus amigos tratavam-no por Franz, nome porque ficou conhecido na História da música.
Cedo descoberto, aos 9 anos, como uma promessa de excepcional pianista, foi aluno de Karl Czerny (1791-1857) e Antonio Salieri (1750-1825). Deu o seu primeiro concerto aos 11 anos, em Viena, que foi um sucesso estrondoso.
A família decidiu que deveria seguir para Paris, a capital das artes do tempo. Aí terminou os seus estudos com o grande professor Anton Reicha (1770-1836), também professor dos grandes Berlioz, Gounod et César Franck.
Rapidamente conquistou fama em vários países europeus.
Em Paris apaixonou-se pela condessa Marie d'Agoult (1805-1876), de quem teve 3 filhos. Decidiu então viajar, durante 10 anos, pela Europa dando concertos e compondo. Visitou 16 países entre os quais Portugal.
Foi durante estas viagens e noutras posteriores, que compôs 26 peças a que chamou “Anos de Peregrinação” nas quais incluía e recordava temas musicais das terras que visitava. Entretanto separou-se da condessa Marie d’Agoult.
Numa das suas visitas a Kiev, na Rússia, apaixonou-se pela princesa Carolyne von Sayn-Wittgenstein.
Instalou-se depois em Weimar (1848 a 1858) onde foi o chefe de orquestra da corte, e foi aí que teve como aluno o grande pianista português José Viana da Mota.
Durante este tempo, muito intenso, compôs as suas melhores obras para piano, para orquestra e corais sinfónicos. Depois de ter deixado a direcção da orquestra de Weimar recomeçou mais uns anos de “peregrinação”.
Recebeu, em 1865 as ordens menores, mas nunca foi ordenado Presbítero.
Era um homem insinuante e muito bondoso tendo ajudado e ensinado muitos músicos jovens no arranque das suas carreiras e integrando-os na sociedade onde era muito apreciado. Um destacado exemplo foi o de Chopin, que introduziu nos salões parisienses.
Faleceu em Bayreuth em 31 de Julho de 1886.
Como pianista foi, e ainda é, considerado um dos maiores virtuosos de todos os tempos, tendo elevado a arte do piano a níveis nunca antes imaginados.
Como compositor deixou uma obra muito extensa para piano, orquestra e corais de muitos géneros. Para piano deixou estudos, sonata em si menor, concertos, transcrições de obras de outros compositores, obras para 4 mãos e dois pianos, arranjos e outras…
Para orquestra e coros deixou um vastíssimo número de obras corais sacras e seculares (mais de 90), poemas sinfónicos, música de câmara, música para órgão, canções, e uma Ópera.
Deixou centenas de obras, mas infelizmente uma grande parte está esquecida.
SONATA EM SI MENOR: Para ilustrar esta efeméride escolhi a sonata em si menor dado ser, para meu gosto, a obra mais importante deste compositor. Dezenas de vezes a tenho ouvido e nela encontro sempre novidade e momentos deliciosos.
De Ernst Burger, biógrafo de Franz Liszt, retiro algumas ideias interessantes.
Curiosamente durante o séc. XIX esta obra foi por muitos rejeitada ou mesmo considerada inferior (ex. Clara Schumann, Brahms, o pianista e aluno Eugen d’Albert etc.). Mas houve excepções muito honrosas como a de Richard Wagner que, a 5 de Abril de 1855, após a ter ouvido a Klindworth (outro aluno de Liszt) lhe escreveu ”Klindworth acabou de me tocar a grande sonata! (…) Caríssimo Franz! Tu estiveste nesse momento muito de mim. A sonata é indescritivelmente bela, grande, amável, profunda e nobre – sublime como tu. Ela tocou-me no mais profundo de mim próprio, e num instante esqueci toda a miséria de Londres”.
Só pelo sec. XX esta obra passou a ser executada em muitos concertos e Ernst Burger afirma mesmo que actualmente “ é a obra para piano mais vezes executada nas salas de concerto”.
Este autor afirma que “ a sonata em si menor, geralmente considerada como a sonata mais importante escrita após Beethoven, faz hoje parte do reportório de pianistas que ignoram praticamente o resto da obra de Lszt.”
Richard Strauss declarou em 1948 a Wilhelm Kempff (grande pianista alemão que tive o privilégio de ouvir duas vezes) “Se Liszt não tivesse escrito senão a sonata em si menor, obra gigantesca saída de uma única célula, teria sido suficiente para demonstrar a força do seu espírito.”
O INTÉRPRETE – Das várias versões que tenho ouvido da sonata em si menor, foi a interpretação de Krystian Zimerman a que mais me agradou, por isso a escolhi para ilustrar este poster.
Krystian Zimerman, nascido em Zabrze (Polónia) em 5/12/1956, fez o seu curso no Conservatório de Katowice sob a orientação de Andrzej Jasinski.
Em 1975, com 19 anos, venceu o Concurso Internacional de Piano Frederick Chopin de Varsóvia, considerado um dos mais importantes do mundo para este instrumento.
É actualmente considerado um dos maiores intérpretes de música romântica.
E agora deliciemo-nos com a audição desta maravilhosa sonata em si menor.
Rui Cunha
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