No passado dia 15 de Fevereiro, deslocámo -nos, numa visita de iniciativa do curso de Literatura, orientada pela Doutora Isabel Ponce de Leão, à Casa Museu Ferreira de Castro, em Ossela (Oliveira de Azeméis) e às Caves Aliança, na Bairrada, onde, após um almoço, em que, como não podia deixar de ser, predominou o leitão, visitámos um dos pólos da colecção Berardo, constituída por uma apreciável colecção de pedras semipreciosas do Brasil e por um conjunto de esculturas africanas. Deve dizer-se, porém, que as duas amostragens, embora colocadas em espaços adequados, não tinham como suporte indicações gráficas, não deixando, contudo, de justificar uma observação atenta.
Mas o fulcro principal da viagem tinha como objectivo a visita à Casa Museu Ferreira de Castro , o que nos permitiria um melhor conhecimento da vida e obra do grande escritor. Por estrita decisão sua, a Casa Museu foi doada à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, com a condição de ser mantida exactamente como se encontrava, quando do nascimento do escritor, de onde resulta que dada a simplicidade espartana do seu conteúdo, tenha um valor meramente simbólico. Em frente, encontra-se, em imóvel mais recente, uma pequena biblioteca, onde se expõem exemplares das edições da sua obra, incluindo muitas traduções em variadíssimas línguas (é de notar que, durante muitos anos, Ferreira de Castro foi o autor português mais traduzido). Encontram-se igualmente expostas as edições das primeiras obras, posteriormente rejeitadas pelo autor. Deve referir-se, contudo, que a maior parte do espólio de Ferreira de Castro foi por ele doado à vila de Sintra, onde viveu grande parte da sua vida, tendo aí falecido.
Esta visita proporcionou-nos uma reflexão sobre o modelo predominante das Casas Museus, que são normalmente constituídas por imóveis, por vezes com recheio de alto valor artístico ( de destacar, entre outras, a Casa Egas Moniz, em Avanca, a Fundação Medeiros e Almeida, em Lisboa, a Casa dos Patudos, de José Relvas, em Alpiarça, a Casa de Carlos Relvas, na Golegã, esta constituída por um notável espólio de fotografia). Entretanto, surge um modelo mais dinâmico, no conceito do qual a Casa Museu deixa de ser apenas um local de evocação do seu criador, evoluindo para um verdadeiro centro de investigação e produção cultural. É já neste modelo que se insere a Casa de Camilo Castelo Branco, em Seide, que constitui um importante centro de investigação literária. Há boas notícias neste tão importante campo. Sabe-se que está em desenvolvimento, no Porto, um projecto de raiz, orientado por pessoa bem conhecida no nosso Instituto, a partir da obra e da personalidade de Agustina Bessa Luís, e que constituirá um centro de investigação e produções afins.
Devo realçar que o êxito e a adesão a esta visita, na qual foram nossos parceiros de viagem o Sr. Professor Doutor Levi Guerra e as Senhoras Dras Maria Aurora e Maria do Amparo, resulta da participação muita activa de todos aqueles que frequentam esta Unidade Cultural. Sem pretender, de forma alguma, procurar estabelecer qualquer comparação com os métodos e a qualidade das demais Unidades, o critério posto em prática pela Doutora Isabel Ponce de Leão, nomeadamente naquilo que ela própria designa como negociação dos temas propostos anualmente, permite desenvolvimentos, intervenções abertas durante as sessões, elaboração regular de trabalhos preparados em casa e analisados por todos durante as aulas; este método tem-se mostrado altamente estimulante. Queria destacar, como exemplo, e por ser de elementar justiça, a contribuição da nossa colega, Dra. Laura Faro Barros que, em todas as aulas, nos lê e oferece um exemplar de um poema seu, habitualmente de grandes qualidade meditativa e domínio técnico.
Para concluir, a definição que me apraz para o curso de Literatura é a de que se trata de um grupo de pessoas que gostam de literatura e que, como tal, se reunem, para ler e debater em conjunto, sob a orientação de uma especialista.
João Pimenta
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