quinta-feira, 31 de março de 2011

O Papel dos Séniores na sociedade do Futuro





Em tempos em que, um pouco por quase todo o mundo, a até agora pirâmide das idades está a deixar de sê-lo, transformando-se gradualmente num rectângulo assente num dos seus menores lados, impõe-se reflectir sobre as implicações desta alteração demográfica na sociedade do futuro. Neste colóquio propõe-se o ICAFG abrir a reflexão sobre como será a intervenção dos seniores nessa sociedade.

Trata-se de um atrevimento distanciarmo-nos das inúmeras abordagens e estudos existentes sobre as carências dos mais idosos nas sociedades actuais e, supostamente, dada a omissão, nas sociedades futuras. Atrevimento porque, a essência metodológica para o fazer pressupõe que o modelo científico que nos condiciona, constitui uma limitação para encontrar as respostas adequadas: muitas delas resultarão sobre o bem compreender as grandes tendências que subjazem à história da humanidade e a especulação sobre as suas futuras implicações.

Assim, não podemos deixar de citar as que cremos serem as principais tendências que irão moldar essas especulações, cientes de que outras, mais ou menos inter-relacionadas, poderão e deverão, vir à luz da discussão. São elas a tecnologia e a explosão do conhecimento; a sempre presente globalização; e a escassez de recursos do planeta e a necessidade de perseverar o seu meio ambiente.

A tecnologia, aqui entendida como o processo de desenvolver uma actividade humana e aumentar o conhecimento humano, tem certamente um papel que importa abordar um pouco mais cuidadosamente, nomeadamente no que concerne às suas vertentes da comunicação e do tratamento da informação, que constituem a razão de ser da vida e da complexificação das sociedades.

Efectivamente, foi a fala, mais do que o fogo, a roda ou o lenho marítimo, que permitiu que os homens se organizassem, lentamente começando a dominar os então seus pares. Foi a escrita, o registo das palavras, que permitiu aos homens começarem a organizar impérios. Foi a imprensa, o primeiro mass media, que multiplicou os detentores do conhecimento e o foi multiplicando, com um enorme impacto na reorganização das sociedades de então. Foram os telégrafo, o telefone, a TSF, a TV, os comboios, os aviões, etc., que asseguraram uma comunicação necessária à organização de sociedades cada vez complexas e vastas. Foi o computador, essa maquineta concebida para fazer cálculos matemáticos, e que se expandiu pelas brutais carências das novas sociedades em tratar a informação gerada pela intensa comunicação existente. E é a internete que replica nos nossos dias, mas de uma forma muitíssimo mais alargada, o que no seu tempo fez a imprensa de Guttemberg: a possibilidade da democratização do saber. À luz dos conhecimentos actuais, talvez seja lícito afirmar serem a transmissão e o tratamento da informação os principais repensáveis pelo evoluir e o complexificar das sociedades humanas, no contínuo construir da noosfera* aventada por Teillard de Chardin. E este facto não pode ser ignorado quando se fazem especulações para o futuro de tais sociedades.


* A Noosfera pode ser vista como a "esfera do pensamento humano", sendo uma definição derivada da palavra grega νους (nous, "mente") em um sentido semelhante à atmosfera e biosfera.
Na teoria original de Vernadsky, a noosfera seria a terceira etapa no desenvolvimento da Terra, depois da geosfera (matéria inanimada) e da biosfera (vida biológica). Assim como o surgimento da vida transformou significativamente a geosfera, o surgimento da conhecimento humano, e os conseqüentes efeitos das ciências aplicadas sobre a natureza, alterou igualmente a biosfera.

Texto de Carlos Marques Pinto a partir das conversas tidas no Grupo de Reflexão para a Preparação do Encontro "O Papel dos Seniores na Construção do Futuro." Este Grupo reúne às segundas-feiras pelas 17 horas e é aberto a todos os alunos e professores do instituto que pretendam colaborar.

Sem comentários:

Enviar um comentário