quinta-feira, 7 de julho de 2011

Capelas do Porto, parte 2


Não se sabe ao certo a data da construção da primeira capela, mas supõe-se ser do século XVI. O Lordelo da beira-rio limitava-se a uma pequena vila de marinheiros e artesãos dos estaleiros do Ouro. Para poderem assistir às missas dominicais e ter assistência espiritual mandaram-na construir perto das suas residências, para não terem que se deslocar.
Tendo eu tido acesso a um pequeno opúsculo editado por O Comércio do Porto em Maio de 1962, encontrei um texto, que conta uma antiga e bela lenda: “dizem os velhos daquele distrito que ouviram a seus pais e avós que a Senhora era muito antiga naquele lugar. E que a Senhora se revelara a uma mulher chamada Catarina Fernandes, casada com Pedro de tal, aparecendo-lhe em sonhos e que houvesse de se dirigir a uma fonte que fica a uma pequena distância da mesma Ermida, e que ali veria uma Pomba, e juntamente a sua imagem… como a mulher (em cujo coração ardiam os grandes desejos de descobrir aquele tesouro revelado tantas vezes) não podia sossegar, nem apartar-se do lugar, persuadiu-o a que fossem ambos àquela fonte a fazer novas diligências. O marido para não a desconsolar, se resolveu a acompanhá-la. E chegando à fonte, viram a mesma pomba, que voava de uma parte para outra parte sem se apartar do lugar; e como quem lhe queria mostrar o local, ou sítio em que a Divina Pomba se ocultava, e tinha o seu ninho. Inquiriram com mais exactas diligências, resultando o descobrir entre umas silvas aquela preciosa jóia, na mesma forma em que hoje se conserva…Logo deliberaram erigir-lhe ali uma capela em que pudesse ser servida e venerada…

Acabada a Ermida em que não faltaram as assistências do Céu, colocaram nela a milagrosa imagem da Senhora, impondo-lhe o nome ou o título do Ó, por ser descoberta neste mesmo dia em que se celebra a sua expectação do parto. Persuadiam-se aqueles devotos da Senhora, que ela se daria por satisfeita daquela morada; mas a Senhora nas fugas, que logo começou a fazer para o mesmo primeiro sítio do seu aparecimento, mostrou que não estava satisfeita com esta capela.
Nesta pena em que estavam os devotos consortes, viram entrar por aquela barra 9 navios de Inglaterra; 8 deles passaram adiante, e o nono ali parou sem poder passar, como os demais. À vista deste sucesso entenderam os católicos que nele vinham, que a Santa imagem de Cristo Crucificado que traziam ocultamente da Inglaterra, queria ser venerada naquela Ermida, e adorada dos fiéis, e assim a tiraram, e trouxeram a terra; e a colocaram nela. Parece que a Divina Previdência tinha disposto se fabricasse aquela Capela, para nela descansar aquele SENHOR, para escapar às injúrias que os hereges lhe podiam fazer. Com a colocação daquela Santíssima Imagem de CRISTO Crucificado suspendeu a Senhora as suas fugas.”Os barcos que entravam na barra traziam católicos fugidos das perseguições de Henrique VIII (1509-1547).  


CAPELA DE S. CRISPIM E S. CRISPINIANO
Crispim e Crispiniano eram irmãos de origem romana. Cresceram juntos e converteram-se ao cristianismo na adolescência. Ganhando a vida no ofício de sapateiro, eram muito populares, caridosos, e pregavam com ardor a fé que abraçaram. Quando a perseguição aos cristãos se intensificou, os dois foram para a Gália, actual França. Foram martirizados durante as perseguições de Diocleciano (sec. III). Pela sua profissão passaram a ser os patronos dos sapateiros.
No Porto, na R. das Congostas, foi construída, no sec. XIV, uma capela em honra destes santos, que tinha anexo um hospital e albergue de peregrinos. Era aí a sede da confraria dos sapateiros.
Quando se pretendeu construir a R. Mouzinho da Silveira esta capela foi demolida (1876).
Em 1878 foi construída a actual CAPELA DE S. CRISPIM E S. CRISPINIANO, na R. de Santos Pousada, tendo ao lado a respectiva Irmandade.


-Desenho de Joaquim Casanova (1833) da capela, Hospital e albergue de peregrinos.


Rui Cunha

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