Por iniciativa de alguns ilustres portuenses, dos quais se destacou Alfredo Allen, 1º visconde de Villar d' Allen, numa época de grande desenvolvimento da industria no norte do país e em especial na nossa cidade do Porto, foi construido um edifício à semelhança do Crystal Palace de Londres, e que se destinava a acolher a grande Exposição Internacional do Porto prevista para 1865, organizada pela então Associação Industrial Portuense.
Para tal foi escolhido o campo da Torre da Marca que se situava na Rua do Triunfo, na zona de Vilar.
A Torre da Marca, destruída durante o cerco do Porto de 1832/34, servia de baliza para os barcos que circulavam Douro acima, a caminho do Porto. Tinha uma abertura vertical a meio que orientava os barcos no bom caminho quando avistavam por ela a Torre dos Clérigos.
A construção do Palácio de Cristal (1865/1951) foi iniciada em 1861 e o autor do projecto foi o arquitecto inglês Thomas Dillen Jones. O saudoso rei D. Pedro V deslocou-se propositadamente para assentar a sua primeira pedra.
Foi em 1865 D. Luis I que o veio inaugurar.
Media 150 metros de comprimento por 72 metros de largura e era dividido em três naves.
A Exposição Industrial, para além de contar com a visita oficial do rei D. Luís, de Dona Maria Pia e do príncipe herdeiro, D. Carlos, contou ainda com 3.139 expositores, dos quais 499 franceses, 265 alemães, 107 britânicos, 89 belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis, 16 dinamarqueses e ainda representantes da Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos e Japão.
Ao longo dos seus 86 anos de existência, o Palácio de Cristal acolheu muitas outras exposições, destacando-se a exposição das rosas, em 1879, a exposição agrícola, em 1903 e a Exposição Colonial, inaugurada em Junho de 1934. Desta última exposição sobrevive o Monumento ao Esforço Colonizador Português, que estava em frente ao palácio e actualmente se encontra na Praça do Império.
No topo Sul do Palácio de Cristal existiu um dos melhores órgãos de tubos da Europa que foi construído sob a orientação de Charles-Marie Jean Albert Widor (Lyon, 21 de Fevereiro de 1844 – Paris, 12 de Março de 1937) e por este inaugurado. Widor foi organista, compositor e professor do Conservatório de Paris e tem uma extensa obra para órgão. Na sessão inaugural do órgão Widor tocou uma peça musical por si composta propositadamente para esse concerto. Esta peça foi de novo executada em 1995 no concerto de inauguração do órgão romântico da Igreja da Lapa.
Era o Palácio de Cristal um local onde se deslocava, em especial ao domingo, a população elegante do Porto para admirar as maravilhosas vistas sobre o Douro, o mar e Gaia, tomar chá na Avenida das Tílias e nos seus lindíssimos jardins.
Estes incluem o chamado Jardim Emílio David que possui belos exemplares de rododendros, camélias, araucárias, ginkgos e faias, para além de fontes e estátuas alegóricas às estações do ano. A Avenida das Tílias constitui o eixo mais marcante deste parque e está ladeada pela Biblioteca Municipal Almeida Garrett (onde se situa a Galeria do Palácio), pela Concha Acústica e pela Capela de Carlos Alberto, construída pela princesa de Montléart em homenagem ao rei Carlos Alberto da Sardenha, (Paris, 2 de Outubro de 1798 — Porto, 28 de Julho de 1849) seu irmão.
Foi o Palácio de Cristal um local dedicado à cultura no seu teatro Gil Vicente. Foi aqui que se realizaram importantes concertos do compositor Viana da Mota e da virtuosa violoncelista Guilhermina Suggia e se apresentaram os melhores actores do tempo.
Esta sala foi muitas vezes cedida para realização de festas de beneficência, comemorações etc. A C.M.P. punha esta sala à disposição da cidade, até porque não havia muitos outros locais do género.
Em 1933 a C.M.P. adquiriu o Palácio de Cristal. Esta, em 1951, alegando que era muito caro manter um edifício com as suas características e no estado em que se encontrava, decidiu cometer o crime de lesa-cidade de o destruir, para que no seu lugar fosse construído um pavilhão de desportos, em betão armado, segundo projecto do Arquitecto Carlos Loureiro destinado a nele se realizar o campeonato do mundo de hóquei em patins, que Portugal ganhou. Os portuenses, indignados e convictos que se teria tratado de um grande negócio para alguns, e dão o desenho deste pavilhão, designavam a obra como “ a grande mama”. A verdade é que se dizia que a enorme quantidade de metais de ferro e chumbo (do órgão) não mais se soube onde foram parar.
Memórias pessoais – Muitas vezes a minha mãe nos levou ao Palácio para nos deliciarmos com as suas surpresas. Lembro-me bem dos carrinhos, da roda dos cavalinhos, dos baloiços, dos balancés, das caixas de areia para saltarmos, dos escorregões, do anel rolante preso ao poste. Das grandes corridas na avenida da tílias.
Do lindíssimo lago com a sua ponte e a gruta, onde mais tarde andava de barco ou gaivota. Dos animais, em especial o leão, da aldeia dos macacos, dos pavões e galinhas da Índia, dos papagaios.
Andei de patins, bicicleta e triciclo naqueles grandes salões laterais, corridas de sacos e, com os olhos tapados, acertar no cântaro com água ou areia… Ainda assisti a uma inesquecível exposição de rosas que pela sua grandeza me espantou. Lembro-me de duas exposições de automóveis, o do maravilhoso Princess que para mim parecia um Rolls-Royce.
Lembro-me da festa da paróquia do Carvalhido, no Teatro Gil Vicente, na qual assisti à actuação das irmãs Trigueiros, uma das quais, uns dez anos após, vim a conhecer e que seria a minha mulher.
Assisti a teatros e concertos.Vi uma exibição de ginástica do Sport Clube do Porto, e delirava quando meu pai me levava a ver a luta livre. Por vezes a exaltação do público era tal que eu me encostava a meu pai cheio de medo. Pagava-se de entrada 1$50 a partir dos 6 anos. O aluguer das bicicletas pequenas custava 2$50 a hora. Enfim, era um paraíso desaparecido pela estupidez e ganância dos homens!
Boa noite,
ResponderEliminarAndava à procura de informação sobre os jardins do Porto, pois adoro quando descubro um que ainda não conheço, para ir visitar,quando encontrei o seu blogue. A primeira vez que vim ao Porto tinha 14 anos e, tinha ouvido muito falar sobre o Palácio de Cristal,mas quando vi o que era fiquei tão desiludida! Na minha cabeça tinha imaginado alguma estrutura em vidro, qualquer coisa com transparência e brilho, enfim, tudo menos o que é na realidade. Embora tivesse gostado muito dos jardins e da vista!Gosto de saber que afinal chegou a existir um prédio bonito e elegante, que infelizmente quem tinha o dever de o preservar, não o fez e em vez disso o destruiu. Parece que era mesmo um edíficio magnifico, o que me deixa ainda com mais pena! Obrigada por partilhar esta informação.