Durante os momentos ICAFG, a professora Margarida Negrais (da Unidade de Escrita Criativa), lançou várias sugestões para produção de textos alusivos ao tema da alegria, na Rádio, na Literatura e no Cinema. Do conjunto de textos recebidos, hoje vamos publicar um poema e uma prosa da aluna Fátima Miranda.
“O menino sentava-se inteiro … e a sua alegria despedia todos os raios”
Guimarães Rosa
Ainda sou hoje aquela
menina inteira?...
Olho a menina do retrato. Retratinho
pequeno, a preto e branco, tirado no jardim, junto ao arbusto.
Vestidinho que piqué branco, com
florinhas bordadas, a saia rodada. Os soquetes a condizer nas sandálias claras.
O laço. O laço grande e vistoso nos
cabelos. Laço de seda branca a coroar a cabecinha da menina.
O que resta em mim da menina que eu
olho?
O que ficou desse tempo sem horas em
que não havia “margens” para a alegria e
todos os sonhos estavam ainda por imaginar?
Onde terá ficado o sorriso límpido, o
olhar de cristal, o coração de vidro sempre a transbordar?
Onde terão ficado os olhos de
estrelas abertos para a beleza e para a descoberta?
Onde estarão guardadas as histórias
encantadas com que a mãe me adormecia todas as noites?
Onde dormirão os meus heróis de papel
que alimentavam a minha fantasia?
Onde terá ficado a menina do retrato?
A menina inteira. “Inteiramente” inteira?...
Um pedacinho do seu coração foi
semeado pelas esquinas da vida.
Porém, às vezes, por breves momentos,
por breves e raros momentos, a menina volta “inteira” a espreitar à janela.
Março de 2012
Fátima Miranda.
Fátima Miranda.
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