Aprender a Olhar para lá do Visivel.
Continuamos, com perseverança e prazer, a viagem pela Arte Contemporânea. O prazer, neste caso, deve-se muito aos excelentes "guias" que nos apoiaram ( o saudoso Dr. Paulo Reis) e apoiam - a Doutora Fátima Lambert (com quem tudo começou) e o Doutor Eduardo Paz Barroso que, felizmente, também aceitou o desafio de nos orientar. Aquela " viagem" tem como centro de apoio o ICAFG, mas passa por muitos luga -res. Recentemente, os lugares foram Museu de Serralves e MAC em Santiago de Compostela. Aí visitámos, sob a orientação preciosa e eficiente do nosso professor , Doutor Eduardo Paz Barroso, as exposições de fotografia dos artistas Thomas Struth (no Museu de Serralves) e Jeff Wall ( no MAC). São duas exposições excelentes. Não fora o apoio do nosso professor não atingiríamos o sig -nificado de cada obra / artista e, possivelmente, não irí amos além do aspecto estético que a observação, mesmo que atenta, nos provocaria.
Qualquer obra de arte contemporânea implica um discurso sobre ela e, portanto, desde que a fotografia adquiriu, merecidamente, o estatuto de arte não prescinde, também, desse apoio da palavra, de um mediador escla -recido entre o observador e a obra. A fotografia enquanto obra de arte não obedece aos critérios da fotografia documental; deixa de ter como preocupação dominante gravar, captar um instante de um espaço . O que se vê sem se conhecer o pensamento do artista, carece de sentido.
Por tal, ir ao Museu com um professor é indispensável e é também um privilégio de que temos usufruído. Assim foi naquelas duas visitas – admirámos as fotografias, compreendemos os seus "como" e os "porquês", reconhecemos-lhe as subtilezas e, como deve ser, ficou-se com vontade de saber mais porque continuamos ignorantes , mas curiosos!
Thomas Struth e de Jeff Wall são dois grandes artistas contemporâneos que recorrem à fotografia para se expressarem; ambos fazem fotografias espantosas, recorrem a grandes formatos, mas como artistas pouco mais têm em comum; as suas obras pretendem coisas diversas, são pensadas de forma muito diferente. Em Jeff Wall o que vemos é ficção, são imagens plausíveis, mas ficcionadas. Cada imagem exposta no museu resul-tou da combinação de muitas fotografias, segundo um plano prévio. O seu objectivo é pictural, recorre à má-quina e à combinação (agora) digital como o pintor recorre aos pincéis e tintas. E, como muitos deles desde a época clássica, ficciona a paisagem… e não só. O resultado é inusitado mas espantoso, provoca em nós uma instabilidade geradora da necessidade de olhar de novo, de procurar o que causa perplexidade. Apercebemo-nos, por vezes, da suspensão do tempo em que "(…) um instante se torna espessura ontológica (…)"! Valeu a pena ver. Vale a pena ver de novo.
Thomas Struth não é pictural . As suas fotografias são belíssimas mesmo ignorando o que ele pre-tende dizer. Vimos (…) "fotos a preto e branco de várias cidades do mundo, retratos de família e impressões a cor em grande escala, tanto de selvas e florestas como de museus, catedrais e templos " (…) e os organizadores da exposição afirmaram que ela (…) " revela a forma como o artista vê o mundo, em toda a sua complexidade, constituindo um retrato do mundo actual, nas suas várias perspectiva" (…). As fotos a preto e branco que vimos correspondem a uma série de fotografias de rua despidas de gente. Foram tiradas segundo uma perspectiva central, o que lhe confere monumentalidade e mistério e nos compele a mergulhar na fotografia procurando o detalhe. Para ir para além do evidente foi preciso conhecer o pensamento do artista para esta série: nesta fase centrava-se em – porque tal cidade é assim? Que influência recíproca entre tais lugares e indivíduo, colectivo, ideologias, …? – Por isto, para ele, a cada uma das fotografias desta série correspondem os espaços físicos específicos representados, mas também espaços mentais … cada uma daquelas imagens é, de modo implícito, um manancial de informações.
Também espectaculares são as fotos coloridas. Uma das séries foi tirada em museus, quer só a visitantes quer a visitantes perante obras de arte consideradas icónicas pela sociedade contemporânea. Em cada uma dessas fotos o artista (…)" "traça" uma linha histórica que transcende todos os que vivem naqueles instantes "(…) Ele mesmo diz :" Quero conduzir juntos o tempo da pintura ( fotografada) e o tempo do observador " .
Valeu a pena ver e vale a pena ver de novo. Foram momentos de algum encantamento. O nosso professor fez falar as fotografias. Gostámos do que elas nos disseram e do que ele nos disse. Aprendemos um pouco mais a olhar para além do visível.
Marília Costa
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