quarta-feira, 27 de março de 2013

Do outro lado do mundo, um poema de Carlos Santos



 



Do outro lado do mundo
 
Sobre o tombadilho da embarcação que é o teu corpo
rasgavas a raiz ao tempo, seguias as correntes
da ilusão e das miragens.
Eras senhor do teu tempo
das convicções que não tinhas e das tuas irresponsabilidades.
Desenhaste a traço grosso as tuas esperanças e
descreveste com palavras vagas e imprecisas
o caminho que ias seguir, contigo ao leme.
Rumaste em direcção à Cruzeiro do Sul,
ao lugar das mágicas auroras austrais,
lá onde pensavas que os sonhos se concretizavam
na volúpia do dia a dia,
de um amanhã sem futuro pensado.
E por lá ficaste, preso aos fios do tempo,
loiro ou moreno, precocemente.
 
Será que as manhãs mais perfeitas estão sempre
do outro lado do mundo? Não. Seguramente não.
Ficaram-me a doer apenas a ausência das tuas inúmeras histórias,
e reconheço, aos poucos, que essas coisas não se podem perder.

 

Carlos Santos

Sem comentários:

Enviar um comentário